Sou do agro, mas não vou defendê-lo
09:53Fotografia de João Farkas/Folhapress |
5 fazendeiros são investigados pela destruição do Pantanal pela prática de queimada no pasto. E eu queria escrever sobre isso, não pra defender a minha "área", mas pra "ajudar" a falar mal.
Eu sou estudante de Engenharia Agronômica e na faculdade somos ensinados a forma correta de se cultivar, de produzir. Somos ensinados a importância da ciência e da pesquisa. A importância do desenvolvimento sustentável, da cooperação entre fatores naturais que garantem a produção sem grande agressão ao meio ambiente.
- Nós aprendemos Fertilidade do Solo e Microbiologia agrícola que envolve nutrientes e a microbiota do solo, que sustenta essa produção.
- Aprendemos Conservação desse mesmo solo para que saibamos respeita-lo e dos recursos hídricos.
- Nós estudamos Legislação Ambiental pra saber os deveres que carregamos quanto às Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais.
- Nós somos lembrados a todo momento o quanto monoculturas (plantios em grandes áreas de uma cultura só) atrapalham toda a biodiversidade e o ecossistema, matando polinizadores.
- Nós aprendemos sobre Manejo Integrado de Pragas que envolve controle biológico, sem o uso de agroquímicos.
- Nós somos ensinados os malefícios das queimadas pra "limpeza de pasto".
Mas mesmo assim, eu não tô aqui pra defender o Agro. Porque eu entendo a revolta de todas as pessoas sobre isso, porque EU também estou revoltada.
Pessoas ignorantes, por falta de conhecimento muitas vezes ou por preferência em continuar na ignorância, geram uma queimada incessante em um bioma brasileiro que está se tornando uma savana. Pessoas ignorantes que não entendem que SEM MEIO AMBIENTE NÃO EXISTE AGRICULTURA! Que mudanças climáticas mudarão todo o ciclo produtivo, que sem chuva no Brasil (que a maioria das plantações ocorre em sequeiro) NÃO SE PRODUZ. E sem Amazônia, não há chuva (como estamos vendo agora).
Tudo isso são questões básicas que quem estudou em uma faculdade de Engenharia Agronômica DEVERIA saber. Mas muitos produtores, sem o aconselhamento de um engenheiro agrônomo, atuam como esses 5 que estão matando o Pantanal, por pura ganância e muita, muita burrice.
A agronomia alimenta o Brasil não apenas por ser o maior dentro do PIB, mas principalmente por pequenos produtores, de agricultura familiar, que sustentam o mercado interno e preservam.
E por esses motivos citados acima, eu gostaria de dizer que o latifundiário não representa o Agro. A agronomia é muito maior que isso e várias pessoas trabalham, seja em pesquisa ou na prática, para garantir uma produção sustentável. Profissionais lutam constantemente pra isso, lutam pra tentar fazer produtor entender e pra grandes empresas melhorarem sua forma de atuação.
Mas, eu apenas gostaria de dizer que eles não representam, porque infelizmente, esses criminosos, fazem parte do agro.
E eu não vou ficar aqui defendendo esse tipo de ação apenas porque sou da mesma área. Não vou ficar aqui atacando quem diz que o Agro é tóxico ou que o Agro mata porque é o que se mostra. Porque gente assim, como esses 5 fazendeiros, sujam toda a imagem de uma classe extremamente importante pro Brasil e pro meio ambiente.
Eu tenho noção da vida, da coletividade e do bem comum que envolve totalmente o meio ambiente, como muitos (a grande maioria) profissionais também têm. Eu me sinto envergonhada e extremamente mal por tudo que está acontecendo, por ver aqueles animais queimando e ver que as pessoas apenas vão começar a se importar quando seres humanos morrerem, porque pra muitos, animais são descartáveis.
Então não consigo me sentir revoltada quando vejo alguém dizendo que o Agro é tóxico, porque tô ocupada me sentindo revoltada com as queimadas, com a falta de fiscalização desse governo que cortou verba de operação de instituições como do IBAMA e que, por isso, o número de autuações por desmatamento e outras infrações decaiu mesmo em um ano em que vemos ações contra o meio aumentarem. Falta fiscalização, faltam ações de conscientização, faltam autuações e operações, falta culpar/incriminar pessoas que matam o meio ambiente em nome da ganância. E talvez só assim, as pessoas que não são do meio, possam respeitar o agro e vê-lo como algo bom.
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