Aprendendo arte sustentável com o Coletivo Amarelo
09:00A arte pode ser utilizada belamente e inteligentemente para o ativismo.
Como fotógrafa adoro saber a história de outros fotógrafos e minha área favorita é fotojornalismo, por um acaso acabei encontrando a história de Dan Eldon, um fotojornalista que morreu ainda muito jovem. Mas a questão é que Eldon não era apenas fotojornalista, mas alguém que começou com o ativismo e que tinha a arte em sua história desde o início de sua vida.
Dan deixou extensos diários com colagens, fotografias e desenhos para trás, que acabaram sendo publicados após sua morte, por sua mãe produtora cinematográfica. Kathy Eldon também fundou a "Dan Eldon Center for Creative Activism", um centro de apoio a ativistas que utilizam da arte para seu ativismo.
Esse assunto me chama muito a atenção e sempre tive curiosidade em saber mais, então encontrei o Coletivo Amarelo no instagram e esse encontro gerou uma entrevista com Stephanie Wruck, uma das fundadoras.
O Coletivo Amarelo é um coletivo de arte que me chamou atenção por se definir como "um ecossistema de experimentação e existimos para cultivar novas formas de consumo de arte", além das postagens sobre arte ambiental que sempre tive muita curiosidade em saber o que era.
1. O que é o Coletivo Amarelo realmente e como é o seu funcionamento?
"O Coletivo Amarelo é um coletivo de arte que opera como um ecossistema de experimentação. Nós adotamos um método de curadoria mais intuitivo para transformar a maneira que a arte é estudada, representada e promovida. Nosso maior objetivo é fomentar novas formas de consumo de arte por meio de discussões temáticas e muita pesquisa. No momento, nós existimos somente online (nosso site) e no Instagram. Todo mês, nós propomos alguns temas específicos (já falamos de memória, biologia, absurdo, sustentabilidade, ritual, entre outros) e exploramos o trabalho de artistas que dialoguem com o tema. É um processo de curadoria misturado com bastante pesquisa e experimentação. Agora, por exemplo, o tema da vez é internet."
2. Por que o coletivo tem esse nome?
"Adorei a pergunta! Para mim, amarelo é a cor que representa luz e vivacidade e de certa forma, eu sempre enxerguei a arte como luz. Eu fui pesquisar sobre as propriedades primárias da luz - intensidade, direção de propagação, frequência e velocidade no vácuo - e na hora identifiquei alguns paralelos com a arte. Assim como a luz, o processo criativo também transfere intensidade, se propaga em diversas direções, se conecta com frequências do mundo exterior e também tem velocidades de desenvolvimento diferentes, dependendo do material utilizado pelo artista. E foi a partir desse paralelo que nasceu o nome Coletivo Amarelo."
3. Qual a sua história de fundação e de suas fundadoras?
"Eu fui exposta ao mundo da arte ainda criança, a minha mãe me levava para museus, galerias e exposições e eu amava circular por esses ambientes. Eu sempre soube que gostaria de trabalhar profissionalmente no mundo das artes, e na faculdade acabei cursando Comunicação e História da Arte. Trabalhei em diversas galerias de arte aqui nos Estados Unidos onde moro atualmente. O meu último trabalho como consultora de arte foi em uma galeria de Nova York, e foi ali que eu percebi o quanto o atual modo de operação das galerias de arte tradicionais é muitas vezes frio e completamente desconectado do público. A minha vontade de criar um coletivo que funciona de maneira diferente só foi aumentando. Foi nesse momento, no começo de 2020, que eu e minha mãe (outra co-fundadora do coletivo) criamos o Amarelo. A minha mãe é artista e também estudou história de arte e curadoria, e sempre trabalhou no meio da arte no Brasil. Assim resolvemos juntar nossas experiências para criar um espaço novo."
4. Qual o objetivo do coletivo e quantas pessoas vocês já acreditam atingir aproximadamente (seja por redes sociais entre outros)?
"Nosso objetivo é cultivar novas formas de consumo de arte, por meio de discussões temáticas, curadoria, pesquisa e experimentação. Nós ainda estamos muito no início, e estamos construindo de pouco a pouco a nossa identidade e linguagem. Lançamos o site a pouco tempo, e muito em breve abriremos a nossa loja! Estamos muito animadas."
5. Quem são os artistas envolvidos?
"Vários artistas já passaram pelo Coletivo Amarelo, e alguns deles já estão lá no nosso site. Nosso objetivo é continuar expandindo esse repertório de artistas cada vez mais, mas alguns nomes: NDA, Eduardo Dias, Mariana Rodrigues, Nara Rosetto, Monica Lóss, Luiza Cardenuto, Vivian Caccuri entre outros."
8. Pode me falar um pouco mais sobre arte ambiental?
"O termo arte ambiental surgiu nos anos 90, quando artistas começaram a utilizar os seus trabalhos para chamar atenção para questões ecológicas, como a poluição, mudanças climáticas e aquecimento global. A arte ambiental questiona as formas que a arte pode estar diretamente envolvida com a natureza e o meio ambiente como um todo. Fizemos um post falando sobre o trabalho da pioneira Agnes Denes, vale a pena conferir. O trabalho dela é sensacional. Post: https://coletivoamarelo.com/pt-BR/blogs/news/what-is-environmental-art"
9. Como a arte é importante para a luta por justiça ambiental, contra mudanças climáticas, e todo e qualquer tipo de ativismo ambiental?
"A arte é uma ferramenta extremamente poderosa para a criação de novas formas de ler a realidade. Quando pensamos em ativismo ambiental, é importante lembrar que chegamos num momento da nossa historia que é preciso tomar decisões completamente diferentes das que foram tomadas por gerações passadas. Propor novas leituras das formas que nos relacionamos com a natureza. A arte é um grande alicerce nessa luta por justiça ambiental, pois ela ao mesmo tempo que nos impacta a níveis super profundos, ela também ensina. Também tem texto sobre arte e sustentabilidade lá no coletivo: https://coletivoamarelo.com/pt-br/blogs/news/arte-e-sustentabilidade-como-artistas-e-impactos-ambientais-estao-relacionados Essa pesquisa foi feita pelo biólogo Eduardo Dias e está muito bem esclarecida pelo ponto de vista científico."
10. Como um artista (seja ele pintor, escritor, fotógrafo, músico...) pode fazer da sua arte algo ambientalmente correto ou se tornar um artista ambientalmente engajado? Pode me dar dicas para isso?
"Acho que esse processo começa na nossa vida pessoal, se informando sobre a maneira que nossos atos impactam o meio ambiente. O artista pode começar esse questionamento por meio de uma investigação dos materiais que ele utiliza dentro da sua prática. De onde vem as tintas? Os pincéis? Os solventes? Um mundo de informações vai se abrindo, e a partir daí esse engajamento com essas pautas vai acontecendo de forma orgânica."
11. Quais são os projetos que estão por vir no Coletivo Amarelo e como podemos ficar sempre conectados?
"O tema da vez é internet e estamos explorando as relações da arte com a internet e a tecnologia em si. Já tem conteúdo lá no site também! Mas acredito que o que mais estamos animados é pra abrir a nossa loja online, onde vários trabalhos incríveis estarão à venda. A melhor forma de se manter informado é seguindo a gente no Instagram @coletivo.amarelo. E no nosso site você pode enviar o seu email pra gente, pois tem newsletter vindo por aí! Me avisa se precisa de mais alguma coisa. Obrigada mais uma vez!"
O que o Coletivo Amarelo faz é nos aproximar da arte por caminhos que estão próximos de nós, como a conexão entre arte e internet que é o tema abordado atualmente por eles, assim como a arte ambiental, feito por artistas ligados ao meio ambiente diretamente para pessoas que podem já ter contato com a natureza como também para pessoas que podem ter seu primeiro contato com a observação do meio ambiente através da arte.
E se você quer entender ainda mais a relação entre Arte e Biologia, assista a mesa redonda abaixo, que discute diversas questões, como: o papel da fotografia na conservação do meio ambiente, sustentabilidade nos materiais usados por artistas em suas obras, relação prática entre artista visual e um biólogo, e muito mais.
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