Período de queimadas: sem informações e já queimando
10:57Ano passado o Pantanal queimou como nunca antes visto no Brasil e só tivemos o conhecimento da extensão de área queimada graças ao trabalho de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Mas ontem, dia 13 de Julho, o Inpe perde a sua autonomia quanto à divulgação de dados obtidos de monitoramentos de queimadas. Essa função foi repassada ao Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) ligado ao Ministério da Agricultura, por ordem do governo federal. Lembrando que há tempos o governo federal vem interferindo na atuação do Inpe, desde a demissão do diretor Ricardo Galvão em 2019, quando este discordou sobre a divulgação de dados de queimadas na Amazônia (Bolsonaro acusava o Inpe de estar inflando os dados). Depois disso, em 2020, quando houve um alerta de desmatamento recorde na Amazônia, o coordenador do projeto também foi exonerado.
(O Inpe é o órgão de maior importância quanto se diz respeito à monitoramento via satélite, realiza a captação de dados seja de queimadas ou meteorológicos, mas até mesmo o supercomputador Tupã, responsável por previsões do tempo, foi desligado por questões orçamentárias, comprometendo pesquisas e até simples previsões que vemos no jornal.)
Segundo o Ministério da Agricultura e o Governo Federal, a transferência de responsabilidade quanto à divulgação dos dados de queimadas foi feita para centralizar as informações na nova rede do Inmet, o Painel de Monitoramento ao Risco de Incêndio, que utilizará informações coletadas pelo próprio Inpe e o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia). Ou seja, o Inpe continuará monitorando, mas não terá direito de divulgação dos seus próprios dados.
(Porém, de acordo com nota conjunta do Inpe e Inmet: “Todos os dados sobre queimadas e incêndios produzidos pelo Instituto continuarão disponíveis livremente para a população em geral por meio do portal http://inpe.br/queimadas“)
De acordo com pesquisadores do Inpe, eles foram pegos de surpresa pela decisão e para o ex-diretor, Gilberto Câmara, o que o governo está tentando fazer é mais um retrocesso proposital, pois o Inpe já combinava dados de risco de queimada com modelos do Inmet e previsão do tempo.
Nesses próximos meses, de Julho até Outubro, será quando veremos os incêndios aumentarem, e se não houver melhor manejo da situação acontecerá como no ano passado, quando o Pantanal bateu o recorde de maior incêndio em 14 anos, sem apoio algum do governo federal para minimizar o caos. Lembrando que esse incêndio catastrófico iniciou por mãos humanas e até hoje os culpados não foram penalizados.
Foto de João Farkas para o livro Pantanal. |
Muitas vezes o fogo inicia por fazendeiros que tentam limpar o pasto ou com fogo controlado ou irresponsavelmente mesmo, mas isso já é uma técnica repudiada por pesquisadores da área de agronomia e nada aconselhável. O fogo no pasto não ajuda a produção de forrageiras para o gado, muito pelo contrário, ele mata toda a vida existente no solo e em pouco tempo ele estará tão pobre que o produtor vai precisar gastar muito mais em fertilizantes caso queira produzir qualquer coisa que seja.
Mas, infelizmente, os incêndios já começaram, nas cidades de Jardim e Bonito, no Mato Grosso do Sul, cerca de 3.750 hectares já queimaram. E o Parque Nacional das Emas em Goiás está queimando há mais de 5 dias e já perdeu 28 mil hectares. De acordo com o diretor do parque o fogo iniciou por terem perdido o controle da formação de um aceiro enquanto preparavam o parque justamente para incêndios.
Aceiro é a limpeza de um terreno em volta de matas, com uso do fogo, para impedir que os incêndios advindos de fora, cheguem com facilidade na floresta. Sua função é impedir ou ao menos retardar os danos causados pelo fogo, pois quando o incêndio chega nas árvores, eles atingem a copa e se tornam incêndios aéreos, praticamente impossível de se controlar e muito mais fácil de ser carregado pelo vento para novas áreas.
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