As queimadas na Grécia e Turquia, e o alerta do IPCC
12:33Há quase duas semanas grandes incêndios florestais atingem a Turquia. Eles começaram em bosques no dia 28 de Julho na província de Antalya e com os ventos, eles se espalharam com rapidez para zonas habitadas. Mais de mil pessoas precisaram ser retiradas de suas casas em 18 municípios e distritos. Cerca de 208 incêndios já foram contabilizados apenas neste ano, enquanto a média em 12 anos era de 43 incêndios na mesma época do ano. Oito pessoas morreram e dezenas foram hospitalizadas.
Ainda não se sabe qual a causa dos incêndios, mas suspeitos foram presos e uma investigação iniciou. Porém o governo do presidente Erdogan tem sido criticado pela forma como estão lidando com isso, já que a Turquia não possui aviões de combate a incêndios mesmo que o seu território seja 1/3 coberto por florestas.
Incêndios florestais na Turquia, foto de 30 de julho de 2021. Foto: Kaan Soyturk/Reuters |
Já são mais de 95 mil hectares devastados e as temperaturas elevadas por conta das mudanças climáticas só pioram a situação. Em Antália a temperatura em 1 de agosto foi de 41°C e no dia 20 de Julho, Cizre marcou 49,1°C.
E na Grécia não é diferente, já foram 110 focos de incêndio em 24 horas no dia 5 de agosto, dois mortos, 1.200 hectares queimados há 30km de Atenas, incêndios na região do Peloponeso e na Ilha de Creta, 45°C, evacuação do pessoal, além de necessidade de ajuda de outros países.
Ucrânia, Rússia e Azerbaijão foram países que cederam ajuda para a Turquia, além das ajudas da União Europeia enviadas à Grécia e para a Macedônia do Norte que também enfrenta a extensão das queimadas.
"Se alguns ainda questionam sobre a realidade do aquecimento global, que venham ver aqui a intensidade desse fenômeno", declarou Kyriakos Mitsotakis, primeiro-ministro grego.
O calor está intenso em todo o hemisfério norte este ano, 50°C já foram marcados no Canadá este ano, e agora a Grécia enfrenta a maior onda de calor em 30 anos. Temperaturas tão altas deixam solo e vegetação secos, o que contribui para o alastramento do fogo. Isso foi o mesmo que aconteceu em 2020 no Pantanal, na mesma época do ano, o período seco no Brasil.
A mesma história se repete em outro país. Ano passado, eram pantaneiros que viam suas casas serem perdidas:
“Vejo tudo aquilo que eu amo se acabando em chamas. O povo pantaneiro luta pelo Pantanal. É aqui que residimos, é de onde tiramos nosso sustento”, disse Maria Helena Tavares Dias, do Território Quilombola Vão Grande, de Barra do Bugres, em uma audiência pública para falar sobre a questão das queimadas, realizada no ano passado.
E hoje são fazendeiros da região de Kacarlar na Turquia, que para a CNN relataram o sofrimento que é ver suas casas e animais pegando fogo:
"Os animais estão pegando fogo. Tudo vai queimar. Nossa terra, nossos animais e nossa casa. O que mais nós temos, afinal?", disse Muzeyyan Kacar, morador de Kacarlar, à CNN
No mês passado, dia 29 de Julho, atingimos o Dia de Sobrecarga da Terra. Esse dia demonstra o quão rápido consumimos os recursos naturais antes do planeta repô-lo. Ele é calculado pela divisão da biocapacidade mundial com a pegada ecológica do mundo naquele ano.
A Biocapacidade é a ação dos ecossistemas de proverem recursos naturais e absorverem resíduos gerados pela humanidade, em um cenário cíclico que seria favorecido pelo desenvolvimento sustentável.
Já a Pegada Ecológica é outra metodologia para quantificar a pressão humana sobre os recursos naturais e é expressada em hectares.
O Dia de Sobrecarga da Terra marcado no dia 29 de Julho (e cada vez adianta mais) significa que os recursos naturais que o planeta conseguiria recuperar em 1 ano, foram consumidos em menos de 8 meses. E isso envolve as queimadas como as da Amazônia que ocorreram ao longo de todo o ano passado, e fizeram as emissões de gás carbônico aumentarem em 6,6%.
Além de tudo isso, hoje (9 de agosto), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) publica o relatório guia para políticas climáticas, denominado "Climate Change 2021: The Physical Science Basis", que aponta os principais problemas causados pela humanidade em relação ao meio ambiente e direciona a implementação de ações que precisam ser tomadas para mitigar as mudanças climáticas que causam situações como as queimadas que estamos presenciando desde o ano passado em diferentes países. Pela primeira vez, o relatório quantifica a atuação humana no aumento da temperatura do planeta e deixa claro que:
"(...) a influência humana é o principal motor de muitas mudanças observadas na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera"
"é inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a Terra"
Filhote de cabra é resgatado em Antalya, na Turquia, durante incêndio florestal. Foto: Orhan Cicek/Agência Anadolu/Getty Images |
Morador na Ilha de Eubeia, Grécia. Foto: Foto: Angelos Tzortzinis/AFP |
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