O descarte de alimentos no campo: o que é verdade e mentira sobre isso?
11:18Ultimamente vários vídeos de produtores rurais descartando diversos tipos de alimentos, em grandes quantidades, estão circulando as redes sociais e chocando a todos. Muitas são as teorias sobre essa prática, mas a verdade é que ela não é sequer nova.
Os principais vídeos que vemos foram publicados ao longo de 2024, um deles é de setembro e mostra o descarte de tomates em Pernambuco e em Minas Gerais. As cebolas, por sua vez, foram descartadas na Bahia, em novembro também de 2024. Além disso existem filmagens de outros frutos, como melancia, mamão, manga e melão, frutas perfeitas para consumo e que estão sendo jogadas no chão.
Algumas frases que acompanham os vídeos ajudam a pregar uma teoria política falsa, dizendo que a culpa do descarte de alimentos seria do governo atual que não quer alimentar os 33 milhões de brasileiros que ainda hoje passam fome.
Mas na realidade, tudo isso é causado pela baixa dos preços, pela grande oferta, por climas favoráveis e boa produção. A questão é que toda vez que os preços do mercado estão favoráveis para o consumidor final, eles provavelmente estarão muito abaixo do custo logístico do produtor rural, o que não torna válido para ele escoar o excedente da produção.
Por exemplo, a queda do preço da cebola em novembro de 2024 diz respeito ao excesso de produção, o clima favoreceu e a colheita foi boa, logo havia grande oferta no mercado. A fake news que foi pregada é que os produtores precisaram descartar sua produção devido a ações do governo Lula, pois o preço baixo do mercado não compensaria os custos de produção. Mas a realidade é que houve muita oferta do produto no mercado, por isso o preço caiu e não cobre o custo logístico do produtor para que venda o excedente da sua colheita, ou seja, aquilo que estava além do planejado para colher.
Sempre é possível fazer uma previsão do que você colherá enquanto produz, porém, quando há favorecimento do clima (já que a agricultura é a única profissão que depende em grande parte das leis da natureza), há também o excedente, que não estava planejado e portanto teria custos não programados para escoar. Esse excedente é o descartado.
Os produtores fazem isso justamente para segurar o preço dos produtos e não continuarem com a queda. É uma estratégia de mercado que infelizmente faz com que alimentos sejam jogados fora, sendo que poderiam ser reaproveitados pelo menos em uma composteira ou então por meio de doações a organizações não governamentais (ONGs).
Como falei, isso não é nenhuma novidade, é uma prática adotada há muitos anos pelos produtores e que pode ser reduzida por meio de políticas agrícolas que visam atuar sobre a sazonalidade característica dessa produção, tentando equilibrar essas variações de produção. Como por exemplo, políticas de administração de estoques, visando a compra de alimentos pelo próprio governo para apoiar produtores e também a distribuição dos alimentos a quem necessita. Ou outras que já ocorrem, como a pesquisa agrícola, extensão rural que visa apoiar o produtor gerando tecnologia para eles e prestando suporte técnico, e até mesmo o crédito rural.
Atualmente, uma política implantada pelo Ministério da Agricultura é o Programa de Garantia de Preços para Agricultura Familiar (PGPAF), que visa dar descontos no programa de financiamento para a agricultura familiar no caso de baixas dos preços da produção, ou seja, os produtores ganham bônus caso suas produções tenham sofrido com as baixas. Inclusive, tomate e cebola foram produtos beneficiados por essa medida.
Lembrando que já existem programas de abastecimento alimentar, no caso o Programa de Aquisição de Alimentos, que visa a compra de certas quantidades de alimentos dos produtores pelo governo e posterior distribuição a pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, além da rede socioassistencial. Ele é gerenciado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e iniciou em 2003, mas hoje é regulamentado pela lei de 2023.
O PAA reforça a agricultura familiar, apoiando os produtores e gerando uma renda mínima, além de reduzir a fome no Brasil. E com suas 5 modalidades ele contempla tanto a compra e doação de leite, como de outros alimentos agrícolas, visando tanto a formação de estoques como a doação direta à instituições que promovem esse trabalho de combate à fome.
@claroviski usando meu diploma nesse tiktok pra falar sobre esses vídeos de descarte de alimentos que estão circulando nas redes sociais, e que são de 2024, entre os meses de setembro a novembro, e que sim, causam desgosto em todo mundo, mas que não, não são por culpa do governo atual e sim uma estratégia de mercado dos próprios produtores rurais que existe há muitos anos. #agro #politica ♬ som original - Clara Bueno
2 comments
texto esclarecedor. Mas é importante sim que governantes, seja federal, estaduais ou municipais, fomentem este processo de estoque, ou programas para alimentação de creches, escolas ou ONGs...
ResponderExcluirO governo já possui o Programa de Aquisição de Alimentos, que compra alimentos de pequenos agricultores e distribui tanto pra rede pública como para pessoas em situação de insegurança alimentar.
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